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Moradores dizem que alerta chegou horas após abertura de comportas

Represa foi aberta às 6h30 de sexta e agravou enchente na Grande SP.
Defesa Civil de Franco da Rocha só apareceu à tarde, dizem afetados.
Comportas abertas na Represa Paiva Castro no dia 11 de março de 2016 (Foto: Reprodução TV Globo)

A abertura das comportas da Represa Paiva Castro na sexta-feira (11), que agravou a inundação na cidade de Franco da Rocha, pegou os moradores de surpresa no início da manhã. Eles contam que só receberam equipes da Defesa Civil Municipal a partir da tarde, quando o "estrago já estava feito" e o nível da água já tinha subido mais de um metro dentro das casas. O temporal e as enchentes provocaram a morte de duas pessoas por afogamento em Franco da Rocha. Ao todo, 25 pessoas morreram no estado por causa das chuvas.
A Prefeitura disse que teve tempo de avisar moradores do bairro Vila Nossa Senhora Aparecida, alertando de porta em porta as famílias e usando sirenes em veículos da corporação, antes da abertura das comportas, feita às 6h30 pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). O bairro é o mais afetado por estar bem próximo do Rio Juqueri, que recebe as águas da Represa Paiva Castro.
A Defesa Civil Estadual disse que a represa fica a 5 km de Franco da Rocha e que a descarga de água leva cerca de duas horas para atingir a cidade. Os moradores, porém, negam que tenham recebido qualquer aviso da Defesa Civil Municipal antes do transbordamento do rio.
A moradora Telma Martins, de 57 anos, disse ao G1 que um representante da Defesa Civil só chegou ao local de barco na tarde de sexta-feira para avisar sobre a abertura das comportas. A água começou a entrar na casa dela, porém, na noite de quinta-feira, quando uma tempestade atingia a região.
"A água começou a entrar cada vez mais rápido e a gente se tocou que era da represa. Logo a geladeira tombou e abriu. Também perdi cama, estante e sofá. Sobrou um colchão", conta. Ela lamentou o fato de não ter podido se preparar melhor para a enchente.
Salão da cabeleireira Elvira foi destruído pela enchente (Foto: Marcio Pinho/G1)Salão da cabeleireira Elvira foi destruído pela enchente em Franco da Rocha (Foto: Marcio Pinho/G1)
O mesmo afirmou a cabeleireira Elvira Costa, de 65 anos, que disse que teria deixado sua casa juntamente com o marido e teria rumado para a casa de parentes, se fosse avisada com antecedência. Ela conta só ter visto um agente da Defesa Civil por volta das 20h de sexta-feira e lamenta que seu salão de cabeleireira acabou destruído.
"É o meu ganha-pão. Vou ter que recomeçar e contar com a ajuda dos outros", disse. Ela diz ser agradecida, porém, ao auxílio dado pela Prefeitura de Franco da Rocha quanto ao fornecimento de água, alimentos e produtos de limpeza.
No mesmo bairro ficam os principais prédios públicos do município. A Prefeitura disse que avisou os responsáveis pelos edifícios para uma rápida retirada de documentos e equipamentos. Mesmo assim, a água entrou na Câmara de Vereadores, em uma delegacia de polícia e na própria Prefeitura.
Hugo Gabriel desmonta o carro depois da enchente em Franco da Rocha (Foto: Marcio Pinho/G1)Hugo Gabriel desmonta o carro depois da enchente em Franco da Rocha (Foto: Márcio Pinho/G1)
Outro morador da região, Hugo Gabriel, de 26 anos, só conseguiu salvar um quadro e uma pequena banheira usada por sua filha. Ele paga R$ 750 de aluguel e está procurando emprego em sua função, de refrigerista, e afirmou que agora a vida vai ficar mais difícil. "Perdemos muita coisa. Ainda estou pagando uma cama box que perdi. Não sei o que vamos fazer", lamentou.
Ele relata que a comunicação da Defesa Civil sobre a abertura das comportas da represa chegou pelo aplicativo de celular Whatsapp por volta das 12h de sexta-feira. No momento da abertura das comportas, Franco da Rocha já estava com alagamentos, mas segundo a Prefeitura, a descarga de até 50 mil litros por segundo no Rio Juqueri, que passa na região central do município, agravou a situação de enchentes.
Prefeitura
O G1 procurou a Prefeitura para comentar a demora no aviso aos moradores da Vila Nossa Senhora Aparecida sobre o risco de alagamentos, mas até esta publicação, não houve retorno. Disse que, apenas em um dos dias logo após o desastre, a Defesa Civil realizou mais de 50 vistorias em áreas de risco.
A Prefeitura de Franco da Rocha já afirmou que distribuiu 200 cestas básicas, 170 colchões, 80 cobertores, água e muitas peças de roupa. Nos abrigos da Prefeitura estão hoje 11 famílias. Doações seguem sendo recebidas na rua Coronel Domingos Ortiz, 499.
A Prefeitura diz que reivindica a liberação de recursos para a construção de dois novos piscinões, na região do Jardim União, cujas áreas a Prefeitura já desapropriou, e para a construção de moradias para as pessoas que perderam suas casas. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tinha prometido a construção de quatro piscinões na região após a enchente que também inundou a cidade em 2011. Os piscinões, porém, não foram construídos.
Infográfico mostra onde fica a Represa Paiva Castro, que teve as comportas abertas no dia 11 de março de 2016 (Foto: Arte G1)
Comunicação
A Defesa Civil Estadual e a Sabesp explicam que a comunicação é feita seguindo um protocolo aceito pelas cidades da Grande São Paulo que podem ser atingidas pela água, e que seguem o padrão do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, e que desde a noite de quinta-feira o prefeito de Franco da Rocha, Francisco Daniel Celeguim de Moraes (PT), e ao chefe da Defesa Civil Municipal, Jonas José da Silva, foram alertados por SMS sobre a chuva que atingia a região (leia abaixo).
A Sabesp afirmou ainda que, mesmo não sendo obrigada a fazer a comunicação para a Prefeitura, reforçou o aviso ao prefeito por meio de uma ligação. O Ministério Público (MP) também resolveu apurar as responsabilidades pelos danos causados à população por causa da abertura das comportas.
Já a Prefeitura de Franco da Rocha disse que a Sabesp e a Defesa Civil Estadual deveriam ter usado um aviso "mais efetivo", como um telefonema, para comunicar o risco de abertura das comportas da Represa Paiva Castro.
Em nota, a Prefeitura de Franco da Rocha afirma que “recebeu estes avisos mencionados por SMS”, mas, “dada a gravidade do assunto, outro tipo de aviso poderia ser mais efetivo”.
Mensagens SMS enviadas pela Defesa Civil Estadual ao prefeito de Franco da Rocha e ao chefe da Defesa Civil Municipal (Foto: Reprodução/Defesa Civil Estadual)Mensagens SMS enviadas pela Defesa Civil Estadual ao prefeito de Franco da Rocha e ao chefe da Defesa Civil Municipal entre a noite de quinta (10) e a manhã de sexta (11) (Foto: Reprodução/Defesa Civil Estadual)
Protocolo
A Sabesp disse que segue um procedimento definido no Plano de Contingência para o Sistema Cantareira, aprovado pelas defesas civis estadual e municipais, e pelo Comitê de Bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Segundo a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, a comunicação é feita seguindo um protocolo aceito pelas cidades que podem ser atingidas pela água e pelos órgãos envolvidos nesse monitoramento, e que segue o padrão do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Na prática, isso significa que, a partir do momento em que a represa começa a se aproximar de um nível de atenção - que depende de cada reservatório e é definido na outorga de exploração do sistema - as autoridades envolvidas são avisadas sobre a possibilidade de descarga, ou seja, abertura de comportas.
No caso da Sabesp, ela é obrigada a comunicar a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, que repassa o alerta às defesas civis municipais e Prefeituras. Em algumas situações, o aviso é feito via SMS para responsáveis pelas equipes e também telefones particulares de prefeitos.
Depois do primeiro alerta, o monitoramento para situação de cheia é mantido. Caso o nível da água da represa atinja o máximo definido pelos órgãos reguladores, as comportas podem ser abertas parcialmente, já que há risco de transbordamento ou de rompimento da barragem.
Segundo a Defesa Civil Estadual, foi emitido um boletim na quinta-feira (10), às 9h11, que já indicava forte chuva e de longa duração para o período da noite na região metropolitana. Às 22h19, a cidade de Franco da Rocha foi informada que o volume acumulado de chuva já havia alcançado o nível de atenção do plano preventivo de Defesa Civil, e que as equipes deveriam realizar vistorias preventivas nas áreas de risco.
A Sabesp disse que comunicou, às 2h30 de sexta-feira, a Defesa Civil Estadual que a Represa Paiva Castro já estava operando em situação de emergência. Catorze minutos depois, a Defesa Civil Estadual enviou uma mensagem de texto SMS para a Defesa Civil Municipal de Franco da Rocha, avisando que às 4h30 abririam as comportas em 10 metros cúbicos por segundo. A abertura só ocorreu duas horas depois do previsto, para evitar o rompimento da barragem, segundo a Sabesp.
A Defesa Civil Estadual informou ao G1 que, às 9h09, reforçou para a Defesa Civil Municipal a informação sobre o aumento de descarga no Rio Juqueri. Segundo a companhia de abastecimento, a vazão afluente (entrada de água na represa) foi de 125 metros cúbicos por segundo, entre as 18h de quinta-feira e 6h de sexta-feira. O pico ocorreu à 1h, com vazão máxima de 239 metros cúbicos por segundo.




Márcio Pinho e Isabela LeiteDo G1 São Paulo
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