Inquérito trata caso como tortura; batalhão apura desvio de conduta.
Gesseiro ficou 12 dias internado após ser agredido.
Gesseiro teve fraturas no maxilar e em várias partes do corpo (Foto: Rodrigo Nunes/Arquivo Pessoal) |
De acordo com o termo de declarações anexo ao boletim de ocorrência, o caso aconteceu no bairro Vila Barão, na zona oeste da cidade, onde o gesseiro teria sido agredido por quase três horas.
Em depoimento ao delegado, Nunes contou que estava indo de moto para casa por volta das 21h30 quando foi abordado na rua MMDC pelos policiais, que estavam armados e com os braços para fora da viatura.
Ainda segundo o documento, Nunes decidiu seguir até um lugar movimentado antes de parar a moto, quando foi fechado pela viatura próximo a um bar na avenida Nove de Julho. Os policiais teriam mandado o homem deitar no chão, onde teria sido agredido com socos e chutes.
Gesseiro ficou 12 dias internado ao ser agredido em
Sorocaba (Foto: Rodrigo Nunes/Arquivo Pessoal)
"O proprietário do bar questionou os policiais sobre o que estava
acontecendo, sendo que um dos policiais disse que a moto era roubada.
Não fizeram nenhuma pergunta e começaram a agredi-lo novamente ainda
dentro da viatura", disse a vítima em relato à polícia.Sorocaba (Foto: Rodrigo Nunes/Arquivo Pessoal)
Em seguida, Nunes conta que foi colocado dentro da viatura, onde sofreu outras agressões. Os PMs levaram o veículo até o começo da rua MMDC, onde ele foi retirado da viatura e espancado novamente. Um dos policiais acompanhou a viatura na moto do gesseiro. Lá eles tentaram coagir a vítima a assumir que estava com drogas e um revólver. Como ele se negou, voltou a ser agredido.
Ao ouvirem gritos de socorro, moradores começaram a filmar a abordagem. Uma das testemunhas relata, no vídeo, que ele não teria reagido às agressões.
O vídeo mostra que os policiais tentaram afastar os moradores com gás de pimenta e bombas de efeito moral. O nome dos responsáveis pelo vídeo não foram divulgados, já que as testemunhas afirmam ter medo de represálias.
De acordo com o gesseiro, ele só foi liberado em um terreno baldio em outro ponto da avenida Nove de Julho, na divisa com o bairro Trujillo. Ele relatou na delegacia que continou apanhando mesmo depois da chegada de outra viatura e que chegou a mostrar conversas e fotos do celular para tentar provar que era trabalhador, e não criminoso. "As agressões só cessaram com a chegada do guincho que foi recolher a moto", diz o documento.
Vítima diz que mostrou conversas e fotos do
celular para tentar provar que não era ladrão
(Foto: Rodrigo Nunes/Arquivo Pessoal)
Ainda segundo o termo de declarações, os policiais fizeram fotos e
vídeos da vítima enquanto ameaçavam-no de morte se ele denunciasse o
caso para a polícia. "Ainda fizeram com que ele limpasse o seu sangue
que havia sujado a viatura" ao terem afirmado que iriam "buscá-lo até no
inferno".celular para tentar provar que não era ladrão
(Foto: Rodrigo Nunes/Arquivo Pessoal)
Nunes contou ainda que foi entregue na casa de seus pais pelos policiais às 0h15. Após ser socorrido, ele passou 12 dias internado, entre a Unidade de Pronto Atendimento do Éden e o Hospital Leonor de Barros, no Conjunto Hospitalar de Sorocaba. O gesseiro teve fraturas na costela, nariz e maxilar. Depois de sair do hospital, ele se recupera na casa de conhecidos.
Investigação
Por telefone, o Setor de Comunicação Social da Polícia Militar afirmou que os policiais foram afastados imediamente após a denúncia.
Um inquérito policial foi aberto e o resultado será remetido para a Justiça Militar Estadual. Haverá ainda uma investigação administrativa para apurar possíveis desvios de conduta por parte dos policiais. Se for comprovado o crime, os PMs poderão ser responsabilizados nas esferas disciplinar e criminal.
A Polícia Civil também abriu inquérito para apurar o caso. Segundo o delegado André Moron, a investigação envolve os crimes de lesão corporal, tortura e abuso de autoridade.
Jomar Bellini e Amanda CamposDo G1 Sorocaba e Jundiaí