Estudantes de agronomia aparecem em imagem durante palestra de órgão estadual ligado à agricultura. Associação diz que não quis fazer apologia ao uso de herbicidas, e que se trata de uma brincadeira com o nome de uma bebida.
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Foto de alunos de agronomia repercute na web com camiseta pedindo 'menos amor, mais agrotóxico' (Foto: Reprodução) |
Uma foto com estudantes do curso de agronomia da Universidade Federal
de Goiás (UFG) causou repercussão nas internet devido às camisetas
usadas por dois deles, com os dizeres: "Menos amor, mais glifosato, por
favor". O produto é um tipo de agrotóxico potente usado para matar ervas
daninhas em plantações e, se aplicado de forma incorreta, pode causar
danos graves às lavouras, segundo especialistas.
A Associação Atlética Acadêmica Agronomia, que confeccionou as vestimentas, informou ao G1
que o intuito não era fazer apologia ao herbicida, e que foi criada uma
"polêmica sem sentido" sobre o caso. Segundo o grupo, o "glifosato" da
camiseta faz referência ao nome de uma bebida preparada pelos estudantes
há anos, e não ao agrotóxico.
O G1 não conseguiu contato com os estudantes que aparecem na foto até a publicação desta reportagem.
A imagem foi feita no último dia 8 de junho, logo após uma palestra da
Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa
Agropecuária (Emater). Na ocasião, duas servidoras do órgão, que também
aparecem na foto, falaram sobre o uso de soja na alimentação humana. A
apresentação ocorreu dentro do Agro Centro-Oeste Familiar (Acof), evento
anual que, desta vez, foi organizado e aconteceu dentro da UFG, em
Goiânia.
A foto, juntamente com uma reportagem sobre o evento, foi publicada
tanto no site quanto nas redes sociais da Emater. Porém, em virtude da
repercussão negativa, todas foram excluídas.
Em nota enviada ao G1,
a assessoria de imprensa da Emater informou que não tem "qualquer
ligação com a produção ou o incentivo ao uso da camiseta". Destacou
ainda que, por respeitar o direto à liberdade de expressão, "não
realizou qualquer tipo de censura relacionada ao uso da camiseta".
Por fim, a agência pontuou que "reconhece, colabora e incentiva toda e
qualquer prática sustentável de produção agropecuária apoiada em
procedimentos seguros e ambientalmente corretos, afiançados pela
legislação vigente".
A UFG, também por meio de nota, se manifestou dizendo que a instituição
não tem "qualquer ligação com a produção ou o uso da camiseta usada
pelos estudantes e que defende o uso de práticas sustentáveis de
produção, de acordo com a legislação vigente".
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Até o semestre passado, camiseta pedindo 'mais glifosato' era vendida a R$ 35, sendo duas por R$ 60 (Foto: Reprodução/Instagram) |
'Não é apologia', diz Atlética
O presidente da Assosiação Atlética, o estudante Guilherme Lima,
criticou a polêmica criada sobre o caso e disse que a camiseta não tem
como ideia fazer qualquer tipo de apologia ao uso da substância. Ao G1, ele afirmou que o termo "glifosato", neste caso, remete ao nome de uma bebida.
"Todo curso tem seu 'mé' (sic), que é uma bebida característica. Cada
um coloca o nome relacionado ao curso, algo engraçado e distorcido do
que realmente é. A gente usa o sentido contrário das coisas. A polêmica
foi criada pelo politicamente correto, que pegaram apenas um lado da
história", afirmou.
Ainda de acordo com Lima, a tal bebida do curso de agronomia já é
chamado de glifosato há alguns anos. A associação chegou a comercializar
as camisetas pelo Instagram ao preço de R$ 30. Porém, o universitário
disse que venda se restringiu ao último semestre, uma vez que novos
modelos são criados neste período.
Apesar de não acreditar que a situação interferiu de forma negativa, o
presidente da associação revelou que ficará mais atento para que
situações similares não voltem a ocorrer.
"Vamos tomar mais cuidados. Estamos em um período que qualquer coisa
que você diz ou faz, tomam partido e acabam te prejudicando", salienta.
Riscos do glifosato
Um dos defensivos agrícolas mais vendidos no combate a ervas daninhas, o
glifosato é considerado bastante forte. Conforme explica o zootecnista e
técnico em agropecuária Antelmo Teixeira Alves, sua aplicação
direcionada da forma incorreta pode causar danos graves às lavouras. "A
aplicação deve ser direto sobre a erva daninha que está causando o
problema".
"Se caso houve contato direto com as outras espécies que se quer defender, toda a plantação será eliminada", afirma.
O produto está disponível em lojas agropecuárias e só pode ser
adquirido mediante apresentação de um receituário agronômico. Ele
pontuou que existem pesquisas que tentam relacionar o uso do glifosato
com casos de câncer, mas não há nenhuma comprovação científica dessa
situação.
A aplicação deve seguir os padrões do fabricante e ser realizada por
profissional qualificado, utilizando todos os Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs). Também devem ser respeitadas questões de horário e
climáticas.
Alves, que também é chefe de gabinete da Emater com 30 anos de
experiência na área, criticou a exposição dos estudantes e disse que o
órgão tem o compromisso de orientar para uma cultura de produção de
alimentos cada vez mais saudáveis.
Por Sílvio Túlio, G1 GO