Em seu primeiro ano de gestão, o prefeito João Doria (PSDB) usou quase
metade da verba destinada à Saúde na cidade de São Paulo no pagamento de
Organizações Sociais (OSs). Instituições e parcerias privadas receberam
R$ 4,9 bilhões dos cofres públicos, 20% a mais que em 2016, último ano
da gestão de seu antecessor, Fernando Haddad (PT).
As despesas totais da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) no ano
passado totalizaram R$ 10,6 bilhões. Ou seja, 46,2% desse valor foi
destinado ao pagamento das instituições parceiras. As OSs são entes
privados contratados pelos governos e que se organizam para poder
realizar funções típicas do poder público.
Em nota, a Secretaria da Saúde afirma que a elevação nos repasses às
OSs "corresponde ao aumento da população SUS dependente no ano passado,
gerando um total de 42,9 milhões de atendimentos em 2017 contra 41,6
milhões no ano anterior".
A pasta acrescenta que "os cortes previstos em maio do ano passado
evitaram repasses de verbas ainda mais elevados" (leia a íntegra da nota
abaixo).
Gastos com Organizações Sociais
Prefeitura de SP aumentou repasses em contratos de gestão e convênios
Fonte: Coordenadoria de Finanças e Orçamento (CFO) e Sistema Orçamentário Financeiro (SOF) da Secretaria Municipal da Saúde
A administração tucana, que tem como foco a privatização e até criou a
Secretaria de Desestatização para essas tratativas, pagou às OSs o maior
valor desde o início dos convênios entre as organizações e a Prefeitura
de São Paulo.
As OSs foram criadas em 2005, na gestão do ex-prefeito José Serra
(PSDB), para atrair médicos e outros profissionais da área, já que os
salários são maiores do que os recebidos pelos funcionários públicos.
Elas foram ampliadas pelo seu sucessor, Gilberto Kassab (PSD).
De acordo com o relatório da Prestação de Contas da própria Secretaria
Municipal da Saúde, que engloba o período de janeiro a dezembro de 2017,
as despesas com as Organizações Sociais foram de cerca de R$ 4,9
bilhões (contra cerca de R$ 4 bilhões no mesmo período de 2016).
Do montante, R$ 4,6 bilhões foram destinados para serviços da
administração direta, como AMAs, UBSs, Rede Hora Certa e Centros de
Atenção Psicossocial (Caps). Os demais R$ 240 milhões foram para a
Autarquia Hospitalar Municipal, que é responsável pela administração dos
hospitais Cidade Tiradentes, M'Boi Mirim, Menino Jesus e Vila Maria
(conhecido como Vermelhinho).
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) foi a
OS que mais recebeu dinheiro dos cofres públicos municipais no ano
passado, totalizando o montante de mais de R$ 1 bilhão (veja as 10
organizações que mais receberam no gráfico abaixo).
Organizações Sociais
Prefeitura de SP repassou R$ 4,9 bilhões para instituições em 2017
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
O montante utilizado com o pagamento dos medicamentos e materiais
médico-hospitalares em 2017 foi de R$ 600 milhões. Se comparar esse
valor com o que foi pago às OSs, verifica-se que a terceirização da
saúde custa quase oito vezes o valor dos remédios e materiais utilizados
pelos profissionais de toda a rede, o que inclui a administração direta
e indireta.
Apesar dos altos valores pagos para empresas gerenciarem a área, o
sistema público de saúde municipal continua apresentando diversos
problemas, como a falta de medicamentos e materiais, além do quadro insuficiente de médicos e outros profissionais da saúde.
Promessa de campanha
A questão das OSs foi um dos temas tratados por Doria durante a
campanha de 2016. Naquele período, o então candidato tucano disse que
pretendia criar uma agência reguladora para fiscalizar o trabalho das
organizações.
"Sou favorável às OSs na educação. Vejo de forma positiva. As OSs já
atuam nessa área, atuam principalmente na área da saúde. Entendo apenas
que é preciso ter uma agência reguladora para fiscalizar e dar o
acompanhamento correto para ter certeza de que as metas e os programas
estão sendo cumpridos", disse em 5 de setembro daquele ano em entrevista à rádio CBN.
A Prefeitura afirmou, no fim do ano passado, que o projeto foi estruturado pela Secretaria Municipal de Gestão e que a previsão de conclusão é o primeiro semestre de 2018.
Veja a íntegra da nota da Secretaria Municipal da Saúde
"A
Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo esclarece que a
elevação nos repasses às Organizações Sociais de Saúde (OSs) corresponde
ao aumento da população SUS dependente no ano passado, gerando um total
de 42,9 milhões de atendimentos em 2017 contra 41,6 milhões no ano
anterior.
Além
disso, a rede municipal de saúde contou com a abertura de novos
serviços, como novas unidades de Serviços de Residência Terapêutica
(SRT), e de todo o projeto Redenção.
Por
fim, a pasta arcou com o dissídio de setembro/outubro de 2016, na ordem
de 6% para as categorias de médicos e enfermeiros, repassados nos
planos de trabalho a partir de fevereiro de 2017.
Cabe esclarecer ainda que os cortes previstos em maio do ano passado evitaram repasses de verbas ainda mais elevados às OSs.
Atualmente,
a secretaria tem firmados 19 convênios com empresas parceiras. O total
de equipamentos administrados por OSS é de 379 no município."
Por Tatiana Santiago, G1 SP, São Paulo