A jovem Cleiciane Rodrigues, de 19 anos, sobreviveu ao tiroteio que deixou três mortos na sexta-feira (2), no Conjunto Novo Horizonte. Ao G1,
uma irmã da vítima, que preferiu não se identificar, disse que
Cleiciane se jogou no chão e ficou quieta enquanto o restante das
pessoas correu para dentro da casa onde ocorria a festa de aniversário.
“Ela não conseguiu correr, ficou no chão e eles atirando. Ela ficou
quietinha, acredito que pensaram que ela tinha morrido. Ela contou que
ficou no chão parada para ver se paravam de atirar e ouviu tudo. A
Cleiciane ficou encostada em uma mesa que estava na área, ela foi a
única que ficou do lado de fora”, relatou a irmã ao G1.
Cleiciane recebeu alta do Hospital de Urgência e Emergência (Huerb) na
manhã deste domingo (4). A jovem foi atingida com três tiros, dois dos
projéteis saíram, mas um ficou alojado na coxa e ela deve passar por uma
cirurgia para retirada. Mas, ainda não há prazo para a realização do
procedimento, pois o local onde a bala está não apresenta risco para a
jovem.
Durante o tiroteio, Luana Aragão, de 21 anos, Rafaella Santos, de 17, e Renan Barbosa, de 20, morreram. A casa onde ocorreu o crime funcionava como uma boca de fumo. A informação foi confirmada pelo tenente-coronel da Polícia Militar Elissandro do Vale.
A irmã nega que Cleiciane tenha envolvimento com facções criminosas.
Ela afirma que a família não teme retaliações pois sabe que a jovem não
tem envolvimento com o crime.
“Minha irmã não tem nenhuma ligação com facção. Ela é estudante, tem
uma filha de 8 meses para criar. Estamos todos muito abalados, não temos
medo de retaliação porque eles sabem quem é de facção e quem não é. O
problema é a repercussão, os familiares de longe ligando e perguntando
se ela é de facção, ficam manchando a imagem da minha irmã”, lamentou.
No dia do tiroteio, segundo a irmã, Cleiciane estava em casa quando
Barbosa apareceu convidando ela para conhecer o bebê dele que tem apenas
15 dias de nascido. A jovem chegou a dizer que levaria a filha dela
para que a mulher do amigo conhecesse, mas foi impedida pela mãe.
No caminho, eles passaram em uma distribuidora e compraram alguns
produtos. Segundo ela, Barbosa morava na rua onde ocorreu o crime e
conhecia todos, por isso parou em frente a casa onde ocorria a festa
para conversar com conhecidos.
Cleiciane recebeu uma ligação da mãe pedindo que voltasse para casa,
pois a filha tinha acordado. A jovem disse à irmã que os tiros começaram
assim que ela desligou o aparelho.
“Ela contou que ficou ao menos 40 minutos lá conversando e até disse ao
Renan que já ia embora pois a nossa mãe ligou. Mas, foi só ela fechar a
boca, que chegaram tirando. Não perguntaram nada ou por ninguém,
dispararam aleatoriamente em todo mundo”, relatou.
Muito abalada e chorando, a irmã afirmou que vão procurar ajuda
psicológica para Cleiciane. Ela diz que fisicamente a jovem está bem,
consciente e não sente tanta dor, mas está assustada e ao mesmo tempo de
luto pela perda do amigo.
“Ela está abalada por tudo e também pela morte do Renan, que era como
um membro da família. Mas ela também está assustada por tudo que
aconteceu com ela, pelas mentiras, pelo julgamento, as pessoas falando
que ela era de facção. A polícia fica dizendo que isso é só entre
facções, mas tem pessoas inocentes morrendo por conta disso”, lamentou.
Investigação
A Polícia Civil trabalha com duas linhas de investigação no caso. O
delegado Nilton Boscaro disse, em entrevista ao Jornal do Acre 2ª
edição no sábado (3), que a polícia investiga se o crime foi passional ou motivado pela guerra entre facções.
Boscaro afirmou ainda que a Polícia Civil já tem alguns suspeitos do
crime identificados. “Estamos trabalhando desde a hora que aconteceu o
delito e vamos continuar até a captura desses indivíduos”, afirmou.
Tiroteiro em festa
Luana Aragão, de 21 anos, Rafaella Santos, de 17, e Renan Barbosa, de 20,
que morreram após serem atingidos no tiroteio, estavam em uma casa onde
funcionava uma boca de fumo, segundo a PM. A polícia disse ainda que
está investigando se as vítimas têm algum envolvimento com o crime.
No sábado (3), Rugleson Silva, de 23 anos, foi
morto em um confronto com o Batalhão de Operações Especiais (Bope). De
acordo com a Polícia Civil, o homem teria roubado e dirigia a
caminhonete usada pelo atirador que matou os três jovens durante a festa
na noite do dia anterior.
Ainda conforme a Polícia Militar (PM-AC), três armas e um simulacro de
pistola foram encontrados com Silva. A Secretaria de Segurança Pública
do Acre (Sesp-AC) informou que ele atirou contra os policiais e já tinha
passagem pela polícia.
Mortes violentas
Em menos 24 horas, somente durante a última sexta (2), Rio Branco registrou sete mortes violentas. Já
no sábado (3), a capital acreana somou três mortes em menos de 24
horas. Ao todo, são dez mortes em dois dias na capital acreana.
A primeira morte de sábado (3) ocorreu no período da tarde, quando um Rugleson Silva, de 23 anos, morreu após entrar o confronto com o Bope.
A onda de violência continuou durante a noite, quando mais duas pessoas
foram mortas na capital acreana. Desta vez, o crime ocorreu na noite de
sábado (3), por volta de 19h, na Rua Campo Novo, no Residencial
Rosalinda, no 2 º Distrito de Rio Branco.
As vítimas, segundo a Polícia Militar (PM-AC), foram identificadas como Deigison Borges de Souza, de 22 anos, que morreu no local. O outro atingido foi o adolescente Keven Xaviver de Lima, de 17 anos, que foi encaminhado ao Huerb, mas morreu durante uma cirurgia.
Apenas em janeiro deste ano, foram contabilizadas quase 50 mortes. No primeiro mês de 2018, 32 mortes ocorreram em Rio Branco e 16 no interior.
Ao menos 29 óbitos foram causados por arma de fogo, na maioria dos
crimes dois homens em uma motocicleta atiram nas vítimas e fogem do
local.
Por Quésia Melo, G1 AC, Rio Branco