A Marinha abriu inquérito para apurar ameaças a militares e tiros
disparados para dentro do Centro de Instrução Almirante Alexandrino
(CIAA), na Penha, Zona Norte do Rio. Os episódios investigados
aconteceram nos dias 21 e 24 de janeiro deste ano, de acordo com
documento obtido pelo G1. Um leito do ambulatório chegou a ser atingido pelos tiros, mas estava vazio e ninguém se feriu.
O CIAA é considerado o maior e mais diversificado centro de formação de
praças da Marinha brasileira e é separado por um muro da comunidade da
Kelson's, controlada pelo Comando Vermelho. A Marinha informou, em nota,
que reforçou a segurança interna para evitar a "ocorrência de fatos
similares".
Segundo relatos de militares, um criminoso armado com uma pistola
sentou no muro que separa o quartel da comunidade da Kelson's e ordenou
que os recrutas encerrassem a atividade física por estar incomodado com o
"barulho". Em outros dois dias, tiros foram disparados para dentro da
unidade e atingiram as instalações do centro (veja detalhes abaixo).
A suspeita dos militares é que o homem que fez as ameaças de cima do
muro seja integrante da quadrilha que controla a Kelson's.
O inquérito que investiga as ameaças foi aberto pela Marinha no fim do
mês passado e tem prazo de 30 dias para ser concluído, com possibilidade
de prorrogação.
Na manhã desta terça-feira (6), imagens feitas pelo Globocop mostraram
homens armados com fuzis na principal via de acesso à favela da
Kelson's. O local onde os bandidos armados com fuzis ficam de vigia está
a uma pequena distância do muro do Centro de Instruções da Marinha.
Medidas de segurança
Além de reforçar a segurança no quartel, a Marinha informou que outra
medida tomada tem sido manter de prontidão, diariamente, equipes de
socorro caso algum incidente aconteça com os recrutas.
A ameaça a alunos de uma unidade militar acontece no momento em as
Forças Armadas têm auxiliado as polícias do RJ no combate à violência.
As ameaças relatadas no inquérito:
- 21 de janeiro: Às 8h30, cerca de 500 alunos faziam a atividade física quando foram surpreendidos por um homem armado com pistola. Os instrutores decidiram deixar o local e retirar a tropa.
- 24 de janeiro: Foram disparados tiros para o interior da unidade. Instrutores e alunos precisaram se abrigar dos disparos. Ninguém ficou ferido.
- 24 de janeiro: Dois disparos atingiram o compartimento de atendimento do ambulatório naval. Um dos tiros atingiu um leito e passou próximo de um cilindro de oxigênio. Ninguém ficou ferido.
Após as ocorrências, as áreas dentro do quartel mais próximas à
comunidade passaram a ser consideradas "sensíveis" pelos militares. De
acordo com o relato de integrantes da Marinha, os disparos vieram de um
ponto entre os fundos da favela Kelson's e a cooperativa de pesca que há
na comunidade.
O CIAA está numa localidade considerada estratégica: o seu acesso
principal é na Avenida Brasil, a via expressa mais importante do Rio. Os
fundos está a Baía de Guanabara. Do quartel é possível se ver a Linha
Vermelha, outra importante via expressa.
Visita de Madre Teresa
A comunidade da Kelson's surgiu há 70 anos numa ocupação de oito
pescadores. Por estar ao lado de uma base militar, ganhou, inicialmente,
o nome de comunidade Marcílio Dias, herói da Batalha Naval do
Riachuelo.
O grau de pobreza extrema do local levou a comunidade a ser visitada
por Madre Teresa de Calcutá, em 1982, quando a missionária esteve no
Brasil.
Atualmente, a Kelson's, nome que passou a ser chamada por causa da
fábrica de PVC que há no local, tem 12 mil moradores. A comunidade é
dominada pela facção de tráfico de drogas Comando Vermelho.
De acordo com policiais do 16º Batalhão (Olaria), o chefe do tráfico no
local é Geraldo Francisco do Carmo Júnior, o Godô, que está preso. Ele é
acusado pelo Ministério Público Estadual de comandar ações para o
roubos de carga e tráfico de drogas.
Por Marco Antônio Martins, G1 Rio