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Marinha apura ameaça do tráfico e tiros para dentro de Centro de Instrução na Penha

Em 3 dias, homem apontou pistola a recrutas pedindo silêncio, e tiros foram disparados por 2 vezes em direção ao quartel, que fica ao lado da comunidade da Kelson's. Leito de ambulatório foi atingido.
Ameaça de traficantes é relatada em documento da Marinha (Foto: Fernanda Garrafiel/G1)

A Marinha abriu inquérito para apurar ameaças a militares e tiros disparados para dentro do Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), na Penha, Zona Norte do Rio. Os episódios investigados aconteceram nos dias 21 e 24 de janeiro deste ano, de acordo com documento obtido pelo G1. Um leito do ambulatório chegou a ser atingido pelos tiros, mas estava vazio e ninguém se feriu.
O CIAA é considerado o maior e mais diversificado centro de formação de praças da Marinha brasileira e é separado por um muro da comunidade da Kelson's, controlada pelo Comando Vermelho. A Marinha informou, em nota, que reforçou a segurança interna para evitar a "ocorrência de fatos similares".
Segundo relatos de militares, um criminoso armado com uma pistola sentou no muro que separa o quartel da comunidade da Kelson's e ordenou que os recrutas encerrassem a atividade física por estar incomodado com o "barulho". Em outros dois dias, tiros foram disparados para dentro da unidade e atingiram as instalações do centro (veja detalhes abaixo).
A suspeita dos militares é que o homem que fez as ameaças de cima do muro seja integrante da quadrilha que controla a Kelson's.
O inquérito que investiga as ameaças foi aberto pela Marinha no fim do mês passado e tem prazo de 30 dias para ser concluído, com possibilidade de prorrogação.
Imagens mostram homem exibindo fuzil na favela Kelson's
Imagens mostram homem exibindo fuzil na favela Kelson's
Na manhã desta terça-feira (6), imagens feitas pelo Globocop mostraram homens armados com fuzis na principal via de acesso à favela da Kelson's. O local onde os bandidos armados com fuzis ficam de vigia está a uma pequena distância do muro do Centro de Instruções da Marinha.

Medidas de segurança

Além de reforçar a segurança no quartel, a Marinha informou que outra medida tomada tem sido manter de prontidão, diariamente, equipes de socorro caso algum incidente aconteça com os recrutas.
A ameaça a alunos de uma unidade militar acontece no momento em as Forças Armadas têm auxiliado as polícias do RJ no combate à violência.
As ameaças relatadas no inquérito:
  • 21 de janeiro: Às 8h30, cerca de 500 alunos faziam a atividade física quando foram surpreendidos por um homem armado com pistola. Os instrutores decidiram deixar o local e retirar a tropa.
  • 24 de janeiro: Foram disparados tiros para o interior da unidade. Instrutores e alunos precisaram se abrigar dos disparos. Ninguém ficou ferido.
  • 24 de janeiro: Dois disparos atingiram o compartimento de atendimento do ambulatório naval. Um dos tiros atingiu um leito e passou próximo de um cilindro de oxigênio. Ninguém ficou ferido.
Comunidade Kelson's e Centro de Instrução da Marinha ficam lado a lado, na Penha (Foto: Fernanda Garrafiel/Arte/G1)

Após as ocorrências, as áreas dentro do quartel mais próximas à comunidade passaram a ser consideradas "sensíveis" pelos militares. De acordo com o relato de integrantes da Marinha, os disparos vieram de um ponto entre os fundos da favela Kelson's e a cooperativa de pesca que há na comunidade.
O CIAA está numa localidade considerada estratégica: o seu acesso principal é na Avenida Brasil, a via expressa mais importante do Rio. Os fundos está a Baía de Guanabara. Do quartel é possível se ver a Linha Vermelha, outra importante via expressa.

Visita de Madre Teresa

A comunidade da Kelson's surgiu há 70 anos numa ocupação de oito pescadores. Por estar ao lado de uma base militar, ganhou, inicialmente, o nome de comunidade Marcílio Dias, herói da Batalha Naval do Riachuelo.
O grau de pobreza extrema do local levou a comunidade a ser visitada por Madre Teresa de Calcutá, em 1982, quando a missionária esteve no Brasil.
Atualmente, a Kelson's, nome que passou a ser chamada por causa da fábrica de PVC que há no local, tem 12 mil moradores. A comunidade é dominada pela facção de tráfico de drogas Comando Vermelho.
De acordo com policiais do 16º Batalhão (Olaria), o chefe do tráfico no local é Geraldo Francisco do Carmo Júnior, o Godô, que está preso. Ele é acusado pelo Ministério Público Estadual de comandar ações para o roubos de carga e tráfico de drogas. 





Por Marco Antônio Martins, G1 Rio
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