Berlim disse que celular da chanceler pode ter sido monitorado.
Governo Obama negou que tenha espionado Merkel.
A Alemanha convocou o embaixador americano em Berlim nesta quinta-feira (24) diante das suspeitas de que os EUA espionaram o telefone celular da chanceler Angela Merkel, informou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores.
"É correto que o embaixador americano foi convocado para uma reunião esta tarde com o ministro das Relações Exteriores (Guido) Westerwelle. No momento será apresentada claramente a posição do governo alemão", afirmou a porta-voz, confirmando uma informação divulgada pelo site da revista "Der Spiegel".
Os EUA estão enfrentando, nos últimos meses, uma série de acusações de espionagem internacional, após o vazamento de documentos feito pelo ex-consultor da NSA (agência de segurança nacional) Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.
Merkel ligou na quarta-feira para o presidente dos EUA, Barack Obama, para exigir uma explicação, depois da revelação sobre a possível espionagem.
Mas Obama garantiu que Washington "não espiona nem espionará suas comunicações".
Merkel disse que, se a informação fosse confirmada, ela consideraria algo "totalmente inaceitável" e seria um "golpe duro" para a confiança entre os países.
As informações provocaram reações irritadas na Alemanha, um dos aliados mais fiéis dos Estados Unidos, sobretudo porque desde que as atividades de espionagem de Washington foram reveladas por Snowden, Merkel teve uma reação compreensiva.
O ministro alemão da Defesa, Thomas de Maizière, disse que "caso as informações sejam exatas, seria realmente grave".
"Há anos suspeito que meu telefone está sob escuta. Mas nunca pensei que seriam os Estados Unidos", declarou Maizière ao canal público alemão.
"Os americanos são e continuam sendo nossos melhores amigos, mas isto não é correto", completou Maizière, antes de pedir ao governo dos Estados Unidos "o fim imediato" das práticas.
Oposição
O líder do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão), Sigmar Gabriel, disse que seria difícil imaginar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos caso Washington esteja infringindo os direitos e a privacidade dos cidadãos.
O SPD e os conservadores de Merkel estão em meio a negociações para formar um novo governo de coalizão.
Imprensa
Para a imprensa alemã, as informações sobre a possível espionagem do celular de Merkel são um golpe duro para a chanceler.
Os jornais lembram que desde o início das revelações sobre a espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, Merkel teve uma atitude de compreensão.
"O governo americano reagiu de maneira ofensiva, afirmando que tudo é normal, tudo é necessário, tudo é útil, tudo se sabe, tudo é legal. A Alemanha se mostrou até agora mais defensiva e Merkel se ridicularizou", afirma o jornal "Tagesspiegel".
Merkel declarou há alguns meses, em uma entrevista a um canal de televisão, que tinha certeza de que não era alvo de espionagem americana.
"Os Estados Unidos traíram o melhor aliado no caso", afirma o jornal "Die Welt".
"Angela Merkel havia feito um favor ao mostrar-se tão moderada e complacente, repetindo que a Alemanha precisava da cooperação com os Estados Unidos e que as informações dos serviços secretos americanos haviam permitido evitar atentados", diz o jornal.
O "Süddeutsche Zeitung" afirma que os europeus tampouco são exemplares e, portanto, não podem dar nenhuma lição aos Estados Unidos sobre o tema.
"Quem pode dizer aos americanos, olhando nos olhos, que não fazemos o mesmo?", questiona o jornal.
A
chanceler da Alemanha, Angela Merkel, mostra um smartphone em feira de
telecomunicações em Hannover em 5 de março (Foto: Fabrizio
Bensch/Reuters)
Da AFP