Foto: Divulgação
Internautas divulgaram imagens registradas na noite de segunda-feira no Hospital da Criança
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As fotografias amplamente divulgadas em redes sociais, tiradas na noite de segunda-feira, 21, mostram diversas crianças, acompanhadas de suas respectivas mães, nos corredores, em cadeiras plásticas e com soro no braço. Bebês que aparentam ter poucos meses de vida ficam em “berços” improvisados com a junção de duas cadeiras e um travesseiro.
Na manhã de ontem, a Folha foi até o hospital para constatar o problema, mas, ao perceber que se tratava de uma equipe de reportagem, um funcionário “convidou” a equipe a se retirar.
Uma mãe, cujo filho está internado na unidade hospitalar, classificou a situação como humilhante. Segundo ela, que pediu para não ser identificada por medo de represálias, uma vez que seu filho ainda está internado na unidade, a situação beira à calamidade. “As mães, cansadas e desconfortáveis, forram o chão com edredons para poder se deitar. Se o hospital não dá conta de atender a todo mundo, por que não firmam um convênio com alguma clínica particular?”, indagou. O discurso dela foi apoiado por outros pais e mães.
Mas, ao contrário da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), que reconhece a eventual incidência do problema em suas unidades, a Prefeitura de Boa Vista prefere negar ou se calar em relação aos fatos. Em recentes declarações à imprensa, a Secretaria Municipal de Saúde tem reiteradas vezes, afirmado que determinados problemas denunciados à imprensa não ocorrem.
CÂMARA - O vereador Sandro Baré criticou, durante sessão na Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV), a forma como o Executivo municipal tem levado a situação do hospital para aquela Casa. Segundo ele, o secretário municipal de saúde, Marcelo Lopes, já compareceu às sessões e apresentou relatórios onde dizia que estaria tudo sob controle. No entanto, quando os vereadores fizeram uma visita surpresa à unidade, no início deste mês, constataram uma série de problemas que vão além da falta de leitos.
Na ocasião, os parlamentares encontraram alimentos estragados na câmara fria, falta de medicamentos, superlotação, demora no atendimento, falta de médico pediatra, falta de leitos e outros. Questionados pela Folha, usuários relataram que os problemas persistem.
PREFEITURA – A Folha enviou e-mail à Prefeitura pedindo um posicionamento sobre o assunto, mas, até o fechamento desta reportagem, a demanda não foi respondida.
Ação do MP pede que Estado e Município solucionem problemas
Sem ter para onde recorrer, pais de menores que necessitam de atendimento no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) procuram quase que diariamente a imprensa como uma última tentativa de terem um atendimento de qualidade.
Enquanto isso, uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de Roraima que, dentre outras providências, chama a responsabilidade também para o Estado, aguarda há quase seis meses um posicionamento da Justiça. A ação foi ajuizada no mês de maio e tramita na Vara da Infância e Juventude.
A ação civil pública protocolada em março, pede que tanto o Estado quanto o Município de Boa Vista apresentem uma solução conjunta e definitiva para os problemas que impedem o bom funcionamento da unidade de saúde.
O Hospital da Criança Santo Antônio é referência em todo o Estado, atendendo crianças e adolescentes não só da Capital, mas de todos os municípios do interior e até mesmo de países vizinhos.
Por esta razão, o MPRR quer que o Estado também seja responsabilizado judicialmente pelo funcionamento adequado do hospital, uma vez que a cogestão e cofinanciamento desse hospital já vêm sendo discutidos há bastante tempo entre Estado e Município, inclusive em reuniões realizadas em conjunto com o Ministério da Saúde, contudo, sem chegar a um acordo sobre a questão.
Na ação, o MPRR destaca que a indefinição tem gerado diversos transtornos, uma vez que o Município de Boa Vista já demonstrou que sozinho não tem condições financeiras ou técnicas de manter essa unidade de saúde funcionando adequadamente.
Esta questão está amparada pelo artigo 17 da Lei nº 8.080/90, ao estabelecer que quando a gestão municipal não consegue cumprir suas obrigações concernentes aos serviços de saúde, cabe ao gestor estadual da saúde complementá-las, inclusive com apoio técnico e financeiro, bem como executar supletivamente as ações e serviços de saúde.
YANA LIMA