Método sorológico, que detecta vírus após fim de sintomas, tem limitações.
Teste desenvolvido pela USP por enquanto é limitado a centros de pesquisa.
Imagem de micrografia eletrônica de transmissão colorida digitalmente mostra o vírus da zika (Foto: CDC/ Cynthia Goldsmith) |
O diagnóstico de zika ainda é muito limitado devido à ausência de
métodos padronizados, afirmou o pesquisador Pedro da Costa Vasconcelos,
diretor do Instituto Evandro Chagas, do Pará, em simpósio sobre o vírus
no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
Testes de biologia molecular (PCR), capazes de detectar o vírus só até cinco dias depois do início dos sintomas, já estão disponíveis em alguns laboratórios públicos de referência -- o Ministério da Saúde anunciou que vai comprar 500 mil testes do tipo até o fim do ano -- e também em privados. Já os testes sorológicos, capazes de detectar a infecção depois de o vírus já ter sido eliminado do organismo, ainda são feitos somente de forma artesanal em instituições de pesquisa e oferecidos por alguns laboratórios privados.
Limitações dos testes sorológicos
O problema, segundo Vasconcelos, é que os exames sorológicos desenvolvidos até o momento por empresas privadas têm limitações de sensibilidade e especificidade. A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) já registrou três testes do tipo, dois produzidos pela empresa alemã Euroimmun e um pela canadense Biocan Diagnostic Inc.
“A Anvisa liberou para uso, mas não avaliou a sensibilidade e nem a especificidade desses testes. Mas eu vi que o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) avaliou e me foi informado em uma reunião da OMS (Organização Mundial da Saúde) que os índices de sensibilidade e especificidade foram muito baixos nesses kits”, diz Vasconcelos.
Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, afirma que tem conversado com o Instituto Nacional Controle Qualidade em Saúde (INCQS) justamente para fazer a validação desses testes sorológicos já aprovados pela Anvisa.
"Existem indícios iniciais de que não são vantajosos em relação ao que já oferece hoje", diz. "Tem que ter uma precisão suficiente para ser útil na saúde pública. Um teste ruim pode gerar mais confusão do que vantagem. Se um profissional acha que é zika e descuida da dengue, isso pode ter consequências catastróficas", observa Maierovitch.
Teste da USP
Em 15 de março, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP anunciaram o desenvolvimento de um novo teste sorológico para diagnóstico do vírus da zika. Mas, por enquanto, ele só deve ser distribuído para centros de pesquisa.
“Nós estamos na expectativa de que este trabalho feito pelo grupo da USP abra a possibilidade de expansão, mas por enquanto ainda é uma coisa artesanal, feita em laboratório, em uma escala menor”, diz Maierovitch.
"O desenvolvimento de novos testes sorológicos com maior especificidade e valores preditivos são necessários urgentemente e representam grande desafio", observa Vasconcelos.
Laboratórios particulares
Os laboratórios particulares brasileiros têm visto um aumento na demanda pelos testes de zika - tanto os moleculares quanto os sorológicos. "A demanda pelo exame tem aumentado mês a mês", diz o patologista clínico Helio Magarinos Torre Filho, médico do Richet Medicina & Diagnóstico.
Mas ele alerta que o exame deve ser pedido apenas em casos específicos. "Em muitos dos casos, o médico pode fazer o diagnóstico clinico, até diferenciando de dengue e chikungunya. O exame é recomendado para casos com maior risco: em mulheres grávidas, pessoas que possam ter imunidade comprometida, pessoas idosas, com doenças crônicas ou crianças mais novas", diz.
No caso do laboratório Richet, para se fazer os testes sorológicos, as amostras têm de ser enviadas para um laboratório na Espanha. Segundo ele, estudos que mostraram um alto índice de reação cruzada - quando o exame "confunde" vírus parecidos como zika, dengue e chikungunya - foram feitos em testes mais antigos. "A nova geração de testes tem um índice de reação cruzada muito menor", afirma.
Entenda: teste molecular x teste sorológico
O método molecular, ou PCR, consiste em multiplicar a quantidade de RNA do vírus na amostra coletada, ou seja, amplificar o material genético do vírus para que seja possível identificá-lo quimicamente. Trata-se de um teste de alta complexidade que exige profissionais treinados e laboratórios especiais.
Apesar de ser preciso, ele é capaz de detectar a presença do vírus em um período muito curto de tempo: só até cinco dias depois do aparecimento dos sintomas. Ou seja, é possível que o paciente ainda esteja manifestando sintomas da doença e o vírus não seja mais detectado em seu sangue.
Já o método sorológico é capaz de detectar os anticorpos contra o vírus, e não o vírus em si. Por isso, ele consegue identificar uma infecção por zika mesmo depois de muito tempo após o fim dos sintomas.
Testes de biologia molecular (PCR), capazes de detectar o vírus só até cinco dias depois do início dos sintomas, já estão disponíveis em alguns laboratórios públicos de referência -- o Ministério da Saúde anunciou que vai comprar 500 mil testes do tipo até o fim do ano -- e também em privados. Já os testes sorológicos, capazes de detectar a infecção depois de o vírus já ter sido eliminado do organismo, ainda são feitos somente de forma artesanal em instituições de pesquisa e oferecidos por alguns laboratórios privados.
Limitações dos testes sorológicos
O problema, segundo Vasconcelos, é que os exames sorológicos desenvolvidos até o momento por empresas privadas têm limitações de sensibilidade e especificidade. A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) já registrou três testes do tipo, dois produzidos pela empresa alemã Euroimmun e um pela canadense Biocan Diagnostic Inc.
“A Anvisa liberou para uso, mas não avaliou a sensibilidade e nem a especificidade desses testes. Mas eu vi que o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) avaliou e me foi informado em uma reunião da OMS (Organização Mundial da Saúde) que os índices de sensibilidade e especificidade foram muito baixos nesses kits”, diz Vasconcelos.
Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, afirma que tem conversado com o Instituto Nacional Controle Qualidade em Saúde (INCQS) justamente para fazer a validação desses testes sorológicos já aprovados pela Anvisa.
"Existem indícios iniciais de que não são vantajosos em relação ao que já oferece hoje", diz. "Tem que ter uma precisão suficiente para ser útil na saúde pública. Um teste ruim pode gerar mais confusão do que vantagem. Se um profissional acha que é zika e descuida da dengue, isso pode ter consequências catastróficas", observa Maierovitch.
Teste da USP
Em 15 de março, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP anunciaram o desenvolvimento de um novo teste sorológico para diagnóstico do vírus da zika. Mas, por enquanto, ele só deve ser distribuído para centros de pesquisa.
“Nós estamos na expectativa de que este trabalho feito pelo grupo da USP abra a possibilidade de expansão, mas por enquanto ainda é uma coisa artesanal, feita em laboratório, em uma escala menor”, diz Maierovitch.
"O desenvolvimento de novos testes sorológicos com maior especificidade e valores preditivos são necessários urgentemente e representam grande desafio", observa Vasconcelos.
Laboratórios particulares
Os laboratórios particulares brasileiros têm visto um aumento na demanda pelos testes de zika - tanto os moleculares quanto os sorológicos. "A demanda pelo exame tem aumentado mês a mês", diz o patologista clínico Helio Magarinos Torre Filho, médico do Richet Medicina & Diagnóstico.
Mas ele alerta que o exame deve ser pedido apenas em casos específicos. "Em muitos dos casos, o médico pode fazer o diagnóstico clinico, até diferenciando de dengue e chikungunya. O exame é recomendado para casos com maior risco: em mulheres grávidas, pessoas que possam ter imunidade comprometida, pessoas idosas, com doenças crônicas ou crianças mais novas", diz.
No caso do laboratório Richet, para se fazer os testes sorológicos, as amostras têm de ser enviadas para um laboratório na Espanha. Segundo ele, estudos que mostraram um alto índice de reação cruzada - quando o exame "confunde" vírus parecidos como zika, dengue e chikungunya - foram feitos em testes mais antigos. "A nova geração de testes tem um índice de reação cruzada muito menor", afirma.
Entenda: teste molecular x teste sorológico
O método molecular, ou PCR, consiste em multiplicar a quantidade de RNA do vírus na amostra coletada, ou seja, amplificar o material genético do vírus para que seja possível identificá-lo quimicamente. Trata-se de um teste de alta complexidade que exige profissionais treinados e laboratórios especiais.
Apesar de ser preciso, ele é capaz de detectar a presença do vírus em um período muito curto de tempo: só até cinco dias depois do aparecimento dos sintomas. Ou seja, é possível que o paciente ainda esteja manifestando sintomas da doença e o vírus não seja mais detectado em seu sangue.
Já o método sorológico é capaz de detectar os anticorpos contra o vírus, e não o vírus em si. Por isso, ele consegue identificar uma infecção por zika mesmo depois de muito tempo após o fim dos sintomas.