A Polícia Militar do Rio de Janeiro exonerou o tenente-coronel Ricardo
Santarém de Salles do comando do Centro de Qualificação de Profissionais
de Segurança (CQPS), que fica em Sulacap, na Zona Oeste. Publicada no
boletim da corporação nesta quinta-feira (22), a demissão ocorreu um dia
após o G1 enviar questionamentos à PM sobre denúncias de militares subordinados ao oficial.
Santarém assumiu o comando do CQPS - que funciona como instituição de
ensino da PM - em 1º de fevereiro de 2017. Policiais ouvidos pela
reportagem contaram que, assim que ficou à frente da unidade, o
tenente-coronel definiu que teria duas secretárias - obrigatoriamente
mulheres - e que elas eram tratadas como "criadas" do comandante.
Em nota, a corporação confirmou a existência de denúncias contra o
oficial e acrescentou que Corregedoria Interna investiga os fatos. No
lugar de Santarém, foi nomeado outro tenente-coronel, o oficial
Maximiano Bresciani. A cerimônia que marcará a passagem de comando deve
ocorrer na tarde desta sexta-feira (23).
Segundo os relatos, as policiais que ocupavam as funções de ordenança
eram obrigadas a, por exemplo, cozinhar para o tenente-coronel, tarefa
que foge à essência das atribuições. Por isso, elas também passaram a
ser ridicularizadas por outros policiais e comumente eram chamadas de
"ricardetes".
O menu do tenente-coronel, de acordo com os PMs, era "fitness". Incluía
"crepiocas" (crepes de tapioca), ovos cozidos, batata doce e vitaminas.
Às vezes, conforme um dos relatos obtido pelo G1, o
tenente-coronel reclamava da forma como os alimentos eram cozidos e
dizia às secretárias qual deveria ser a forma de preparo.
Além de serem responsáveis pela comida, um dos policiais ouvidos disse
que as secretárias também lavavam a louça do comandante. De acordo com o
depoimento, a sala de Santarém era próxima à pequena copa do CQPS, mas o
oficial fazia questão de largar o prato em cima da mesa da secretária
para que ela lavasse.
"A sala dele fica a poucos metros da copa. Ele come e deixa o prato sujo na entrada da unidade, na mesa da menina. É como se fosse a recepção. Ele coloca o prato em cima da mesa e ela tem que parar o que está fazendo para ir na cozinha limpar toda a sujeira e lavar o prato dele."
Um dos casos mais graves de abuso ocorreu, segundo um militar, com uma
das secretárias que foi chamada pelo oficial com palmas. "Uma vez, uma
menina estava na seção conversando com outro policial e ele quis chamar
ela. Mas, em vez de chamá-la, bateu palma, como se ela fosse uma
mucama."
Por Nicolás Satriano, G1 Rio