Um estudo da Comissão de Análise de Vitimização da Polícia Militar do
Rio de Janeiro indicou que uma alternativa para diminuir o número de
policiais militares mortos ou feridos no Estado é a "desmobilização" de
unidades de Polícia Pacificadora. O foco seria em unidades que "estão
asfixiadas pelo crime", que estariam sofrendo com "total perda de
efetividade". O efetivo seria realocado para batalhões locais.
Uma das mudanças sugeridas no estudo é a transformação de algumas UPPs
em "Unidades Estratégicas de Cerco Restrito", com previsão de ações
diárias no acesso a essas comunidades. O termo usado é operações de
"asfixia". O enfrentamento ao tráfico de drogas e armas também é
sugerido em rodovias estaduais de acesso à região metropolitana, em
outra parte do texto.
O tema foi discutido há uma semana durante um seminário que aconteceu
na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Na
ocasião, o comandante da PM, Wolney Dias, chegou a afirmar que há um
estudo para o fim de 18 das atuais 38 UPPs. No dia seguinte, no entanto,
o governador Luiz Fernando Pezão afirmou que essa redução não está
planejada.
Dados de inteligência da Polícia Militar indicam a dez UPPscomo
críticas na vitimização policial em 2017, com mais de quatro mortos ou
feridos em serviço:
- Camarista Méier
- Cidade de Deus
- Fallet Fogueteiro
- Providência
- Jacarezinho
- Arará Mandela
- São João
- Alemão
- Vila Cruzeiro
- Mangueirinha
Para identificar as áreas de maior periculosidade, a polícia dividiu as
regiões em cores: o "vermelho" foi a cor escolhida para definir as
piores áreas. A Cidade de Deus, por exemplo, com UPP instalada desde
2009, viveu dias de tensão após a prisão de um traficante. Três morreram
e a Linha Amarela ficou fechada em vários momentos. De acordo com dados
do Instituto de Segurança Pública (ISP) analisados pelo G1 mostram que a região da Cidade de Deus tem uma morte violenta a cada 4 dias desde 2015.
A comunidade já era apresentada como uma das áreas consideradas
"vermelhas" há três anos, quando a Polícia começou a dividir as
comunidades de acordo com cores para avaliar a quantidade de confrontos e
resistência à polícia. A classificação do local é a mesma desde 2015.
Outras regiões como o morro São João, Camarista Méier e Complexo do
Alemão também apareciam na primeira listagem de áreas de risco em 2015, e
seguiram nessa condição. A Rocinha era outra das cinco comunidades a
serem classificadas como "vermelhas" no início das análises.
Entre as medidas apresentadas como de valorização policial estão o
aumento da quantidade e qualidade de treinamentos de tiro, abordagem,
conduta, patrulha e combate em área restrita. O estudo também sugere a
criação da Galeria de Heróis no site da corporação, além da criação de
um monumento aos policiais mortos.
Em agosto do ano passado, o secretário de segurança, Roberto Sá, havia
prometido reformular as unidades. Na ocasião, prometeu manter a PM em
todas as comunidades mas subordinar as UPPs aos batalhões de cada área.
Dentre as mudanças, a realocação de efetivo para a Região Metropolitana.
"Todas as UPPs serão mantidas na sua essência. Digo pra cada morador
que acreditou, vamos continuar presentes, cumprindo o nosso serviço", disse Sá há seis meses.
Áreas críticas
As áreas mais críticas para agentes da corporação, segundo analistas da
própria PM, são do 7º BPM (São Gonçalo) e 20º BPM (Nova Iguaçu). São
Gonçalo não possui unidades , enquanto Duque de Caxias possui a UPP
Mangueirinha, uma das últimas a ser fundada, em janeiro de 2014.
De acordo com os dados apresentados em uma conferência, 163 Pms
morreram em 2017, sendo 128 de folga e 35 em serviço. O número de casos
entre 1995 e 2017 chegou a 3,17 mil mortos. De acordo com dados da
comissão de análise em vitimização, foram 11 mortes em 2017 de policiais
de serviço em UPPs. Entre os 784 feridos , 117 eram de Unidades de
Polícia Pacificadora.
Especialista vê "padrão assombroso"; PM nega fim de bases
Nos últimos meses, Jacarezinho e Lins
tiveram megaoperações das Forças Armadas em Conjunto com as forças de
segurança estaduais, principalmente, após as morte de policiais civis e militares. As ações tiveram pouco mais de 40 presos, dois mortos e pouca quantidade de munição e drogas apreendidas. Ontem foi a vez da Cidade de Deus.
Ex-secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente Filho,
considera temerária a possível saída de algumas UPPs: "Como é que você
vai se posicionar naquela comunidade retirando os policiais? Você pode
acabar empoderando os criminosos", avalia ele, que diz que o problema da
vitimização de PMs é um "padrão assombroso para todo o mundo".
"Isso mostra alguns erros que estão sendo cometidos. A questão da
vitimização policial tem várias camadas: o treinamento precisa ser
eficiente para a autoproteção do policial. Há também a questão de
estrutura, e uma demanda maior em termos de pacificação , como cercar
controle de acesso a algumas dessas comunidades", afirmou José Vicente.
Em nota, a Polícia Militar afirma que "não há previsão de extinção de
nenhuma base de UPP". Segundo a PM, a proposta de redução das UPPs foi
discutida entre os participantes de um congresso, mas não foi incluída
na lista das medidas que serão executadas este ano. O documento entregue
na última sexta-feira ao governador Pezão inclui 16 medidas para 2018,
que podem ser lidas aqui.
Entre as medidas previstas, estão a blindagem de unidades e viaturas da
corporação com a ajuda da iniciativa privada e estabelecimento de
parâmetros mínimos de segurança para policiais em unidades operacionais,
especialmente de UPPS.
Mortes de PMS entre 1995 e 2017
São mais de 3 mil mortes registradas no período, em serviço e de folga
1999
Anos 131
Anos 131
Fonte: Polícia Militar/Divulgação
Por Henrique Coelho, G1 Rio