Salah Abdeslam, único integrante vivo das células jihadistas que
atacaram Paris em novembro de 2015, comparece nesta segunda-feira (5) a
um tribunal de Bruxelas para responder por sua suposta participação em
um tiroteio em 2016 em Forest, na Bélgica. Ele invocou o direito de se
manter em silêncio, de acordo com a France Presse.
Abdeslam se recusou a responder perguntas no início do julgamento, que
começou pouco antes das 9h (6h de Brasília) no Palácio da Justiça de
Bruxelas. "Eu testemunho que não há outro profeta senão Alá e Maomé é o
seu profeta. Não tenho medo de vocês, coloco minha confiança em Alá",
declarou ainda, de acordo com o jornal belga "Le Soir".
No início, do julgamento ele se recusou a dizer o próprio nome e a
ficar de pé quando foi solicitado pela juíza que preside o processo,
Marie-France Keutgen. Desde sua detenção na França em abril de 2016,
Abdeslam mantém silêncio diante dos investigadores.
"Meu silêncio não me converte em um culpado ou um criminoso. Há provas
tangíveis e científicas nesse dossiê. Eu quero que me julguem com base
nelas", afirmou Abdeslam.
Abdeslam está de camisa polo e usando barba, bastante diferente da foto divulgada na época dos atentados em Paris.
Nesta semana, Abdeslam será julgado pelo tiroteio ocorrido em 15 de
março de 2016, dia em que investigadores franceses e belgas foram
surpreendidos por tiros durante uma operação de rotina em um dos abrigos
da célula em Forest.
Tiroteio
Três policiais ficaram feridos enquanto que um jihadista de origem
argelina, de 35 anos, Mohamed Belkaid, morreu ao enfrentar os agentes
para encobrir a fuga de Abdeslam e de um cúmplice, Sofiane Ayari, um
tunisiano de 24 anos, que também será julgado em Bruxelas.
Os dois jihadistas foram detidos três dias depois, em 18 de março, em
Molenbeek, uma prisão que, segundo os investigadores, representa o
detonador dos atentados de 22 de março, quando três atacantes suicidas
se explodiram no aeroporto e no metrô da capital belga.
Abdeslam e Ayari devem responder pelas acusações de "tentativa de
assassinato de vários policiais" e "posse de armas proibidas", tudo em
"um contexto terrorista". Eles podem pegar até 40 anos de prisão.
Forte esquema de segurança
Esse processo que julga o tiroteio ocorrido em Forest é considerado um
preâmbulo do julgamento que acontecerá na França pelos atentados de
Paris que deixaram 130 mortos, em uma data que ainda não foi anunciada.
Um comboio policial, escoltado por unidades de elite, acompanhou a
viagem de quatro horas a partir da prisão de Fleury-Mérogis, ao sul de
Paris. As autoridades também organizaram um importante dispositivo de
segurança, dentro e ao redor do Palácio de Justiça.
O francês de 28 anos e de origem marroquina, que cresceu e se
radicalizou no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, fazia parte de uma
célula jihadista envolvida em ao menos três grandes operações
terroristas nos últimos anos.
Os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris (130 mortos), os de 22
de março de 2016 em Bruxelas (32 mortos) e o fracassado ataque em um
trem entre Amsterdã e Paris em agosto de 2015 foram de responsabilidade,
"talvez, unicamente da organização Estado Islâmico", segundo a
Procuradoria federal belga.
Uma associação de vítimas de atentados, V-Europe, que diz representar
cerca de 200 pessoas dos atentados de Bruxelas, reclamou ser parte civil
no julgamento.
A defesa dos acusados poderá aceitar de mau grado esta constituição em
parte civil de última hora, apesar de várias fontes relacionadas com o
caso excluírem qualquer novo adiamento.
A audiência, que deveria ter acontecido em meados de dezembro no
tribunal correcional de Bruxelas, foi adiada para dar tempo a Sven Mary,
o novo advogado de Abdeslam, preparar sua defesa.
Um renomado criminalista belga acompanhou o jihadista logo depois de
sua prisão, mas jogou a toalha sete meses depois, criticando a
incompreensível atitude de seu cliente.
Abdeslam também será julgado na França pelos atentados de 13 de
novembro de 2015, mas a data do processo ainda não foi determinada.
Por G1