Durante o período de investigação, a Polícia Federal apreendeu 149 quilos de drogas no Aeroporto de Boa Vista
Florianópolis; Dinheiro, veículos, joias e mais drogas foram localizados em Boa Vista (Fotos: Divulgação/Polícia Federal) |
A Operação Ponte
Aérea, desencadeada nas primeiras horas da manhã de ontem, dia 21, pela
Polícia Federal em Roraima em parceria com o Ministério Público do
Estado, resultou no cumprimento de nove dos dez mandados de prisão que
foram expedidos, além de nove mandados de busca e apreensão que foram
cumpridos na íntegra. O objetivo da operação é desarticular a associação
criminosa integrada por investigados que atuavam criminosamente no
tráfico de drogas, financiamento e associação para o tráfico em Boa
Vista.
Além dos mandados, o sequestro de bens
de dez investigados foi realizado pela Polícia, decorrente de ordens
judiciais deferidas pela Justiça do Estado de Roraima, após
representação em Inquérito Policial. As medidas judiciais foram
cumpridas em Boa Vista, Manaus (AM) e Florianópolis (SC). “São pessoas
investigadas, envolvidas no tráfico de drogas, associação para o
tráfico, lavagem de dinheiro e financiamento do tráfico de drogas. Um
investigado ainda está foragido, não foi preso, e a polícia trabalhando
para cumprir esse último mandado de prisão que é de um dos principais
investigados. As medidas estão sendo cumpridas”, informou o delegado
Alan Robson Ramos.
Nas ações, os agentes apreenderam
drogas, armas, valores em real, dólar e veículos, alguns de luxo. “O
trabalho de apreensão e de oitiva dessas pessoas dentro desse inquérito
policial, que foi instaurado há um ano, continua. Em Florianópolis, que é
um dos municípios onde também estão sendo cumpridos esses mandados, foi
apreendida a maior quantidade de drogas, que têm êxtase, selos de LSD
[Dietilamida Ácido Lisérgico]. Essa quantidade está sendo computada e
ainda vai ser encaminhada para a Polícia Federal em Roraima”, disse o
delegado.
Durante um ano de investigação, a
Polícia Federal calculou que foram apreendidos 149 quilos de drogas,
principalmente skunk, a supermaconha, embarcando do Aeroporto
Internacional de Boa Vista Atlas Brasil Catanhede para outras cidades.
“Esse que ainda está foragido era quem coordenava, comprava as
passagens, fazia a seleção e pagamento das 'mulas' que é quem
transportava a droga, então ele é um dos principais envolvidos, que tem
domicílio em Florianópolis, Boa Vista e Manaus. Em Florianópolis foi
apreendida uma grande quantidade de droga, uma arma de fogo. A polícia
vai trabalhar para cumprir esse mandado”, acrescentou Ramos.
A droga era comprada pelos investigados
em Manaus e transportada até Boa Vista e, em seguida, era levada para as
regiões Sul e Sudeste em voos domésticos, na maioria das vezes pelas
mesmas “mulas” que receberam a droga na capital amazonense. Nas capitais
do Sul e Sudeste, eram adquiridos veículos importados objetos de crime
para revenda no Norte do Brasil.
“Em um ano de investigação foram
apreendidos, apenas no Aeroporto de Boa Vista, 145 quilos da droga
[skunk] e 15 transportadores foram presos em flagrante. Dois dos presos
confessaram que estavam a serviço da associação criminosa alvo da
operação de hoje (ontem) e os demais ficaram em silêncio. O principal
destino da droga era o Estado do Paraná, de onde o skunk era
redistribuído para São Paulo e Santa Catarina, região de onde retornavam
as “mulas” trazendo drogas sintéticas, mais fáceis de serem
dissimuladas na bagagem. Em algumas apreensões, a droga também estava
sendo enviada ao Nordeste. Boa Vista estava sendo usada como rota da
droga e a droga chegava aos grandes centros nacionais. A droga que vale
por volta de R$ 10 mil o quilo”, concluiu o delegado. (J.B)
Presos na operação mantinham alto padrão de vida em Boa Vista
Os investigados na Operação Ponte Aérea,
deflagrada pela Polícia Federal, se valiam da posição social, por serem
das classes alta e média, para praticar o crime de tráfico em boates e
festas frequentadas por jovens com alto poder aquisitivo, bem como
empregavam no transporte de drogas pessoas que aceitavam correr o risco
de serem presas por uma pequena fração dos lucros.
Os usuários de drogas, que rodeavam o
bando de traficantes, eram utilizados como “mulas” para o transporte. Os
investigados ostentavam muitos veículos importados e bens adquiridos
com dinheiro ilícito. A Polícia Federal revelou que, inclusive, um
médico está entre os investigados que integram o grupo criminoso.
“Um médico daqui de Boa Vista é
investigado por associação ao tráfico e financiamento. A investigação
aponta, por exemplo, que em uma das oportunidades, ele emprestou R$ 50
mil a juros mensais de R$ 5 mil e teve como garantia um veículo de um
dos traficantes, que era importado, de alto valor. Os traficantes
utilizavam esses valores como capital de circulação para a prática
criminosa, para comprar a droga, revender e gerar valor para pagar o
suspeito que financiava”, explicou o delegado, Alan Robson Ramos.
De acordo com a PF, no curso das
investigações, quatro integrantes da quadrilha, que vendiam a droga no
varejo e no atacado, e outros dois em posse de uma pistola Glock, de
fabricação austríaca, e carros de luxo roubados no Estado de São Paulo
foram presos.
Os presos em Boa Vista foram conduzidos
para realização de procedimentos legais antes de serem recolhidos ao
sistema prisional. “Eles estão sendo investigados e indiciados. Estão
presos preventivamente envolvidos nos artigos 33 e 35 da lei de drogas
[11.343/06], artigo 1o da lei de lavagem de dinheiro [12.683/12] e pelo
financiamento do tráfico de drogas. São crimes hediondos, gravíssimos e
só o tráfico prevê pena de 30 anos. A soma dessas penas individualizadas
vai ultrapassar os 30 anos”, ressaltou Ramos.
Os pais do principal investigado no caso
também foram conduzidos à Superintendência da Polícia Federal,
inclusive, o indivíduo, segundo o levantamento policial tem duas casas
alugadas no bairro Caçari, zona Leste da Capital, que eram usadas para o
tráfico de drogas.
A Polícia Federal destacou que qualquer
pessoa pode denunciar o tráfico de drogas em Roraima por meio do
telefone: (95) 3621-1500.
N.R.: A reportagem da
Folha resguardou os nomes dos suspeitos respeitando o artigo 5º da
Constituição Federal, que preceitua que “ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. O
artigo prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação. (J.B)
Por João Barros