Recentemente, dez famílias decidiram ocupar algumas casas em condições de extrema pobreza e morando de forma irregular. No local não tem água encanada nem rede de energia. As famílias deram um jeito de instalar portas, janelas e telhados.
A obra iniciou em 2008, através do convênio do Ministério das Cidades com a Prefeitura do Cantá, por intermédio da Caixa Econômica Federal (CEF). De início, a CEF disponibilizou R$927 mil para construção das casas. O prazo para obra era de 120 dias, mas se passaram cinco anos e nenhuma casa foi concluída.
Longe de tudo, no local não há escolas nem posto de saúde; o mais próximo fica na sede do Cantá. Há apenas uma parada de ônibus na entrada do conjunto. As casas possuem espaço para dois quartos, sala, cozinha e banheiro. As unidades fazem parte do Programa do Governo Federal Minha Casa, Minha Vida.
Quem mora lá sofre com o abandono e descaso do poder público. Um exemplo é o oleiro Edir Adão da Silva, que é da etnia Wapichana e trabalha na olaria da Vila Vintém há 20 anos, à margem da BR-410. É casado e tem sete filhos para abrigar. Em setembro deste ano, ele resolveu se mudar com a família para uma das casas, das quais uma delas seria dele quando estivesse terminada. Edir comprou telhas e recebeu as portas e janelas como doação de voluntários. “Eles fizeram isso aqui para gente, mas não sei por que nunca entregaram”, disse indignado.
Ele decidiu ir para o local porque teve sua casa alagada durante o inverno. “Não tem como ficar lá, não tem nem escola perto para meus filhos”, comentou. Segundo Edir, o ex-prefeito Zacarias Assunção, acompanhado da esposa, que é a atual prefeita Roseny Cruz Araújo, estiveram no local e fizeram a promessa de que os problemas seriam resolvidos. Uma pessoa passaria realizando cadastro. “Até agora ninguém passou. Eles disseram que quem está aqui pode ficar. Daí ficamos”, disse. Como forma de sobrevivência, os moradores retiram água do poço para beber e tomar banho. Não tem energia elétrica e os moradores usam lamparinas.
A prefeita Roseny Cruz Araújo disse que a paralisação da obra ocorreu por falha da gestão passada e que a prefeitura está inadimplente com a Caixa. “Temos que dar R$200 mil para Caixa ou devolver todo o investimento feito”, disse. Do quantitativo investido, a metade foi usada nas obras que estão inacabadas, segundo ela. “Estamos negociando com a Caixa para retomarmos as obras”.
O vice-prefeito Francisco Alves Lima explicou que a paralisação das obras foi devida a uma denúncia feita de que as casas estariam sendo construídas em área alagadiça e que nenhuma obra poderia ser feita ali. Mas, depois, acrescentou que outro motivo seria a troca de empresas realizadas na gestão passada. “A prefeitura tem recurso, mas não dá para terminar”, comentou.
Disse ainda que a prefeitura tem pendências com o Governo Federal por causa de outras obras. “Tem uma creche com recurso federal, mas que parou. O que tem de recursos não dá para terminar. Tem também a caixa d’água na Vila Central. As obras estão sem recursos porque a prefeitura está inadimplente com o Governo Federal”, comentou. “Não sei dizer o prazo para retomada das obras”, disse. (Y.G.)