O Parlamento da Escócia solicitará nesta terça-feira (28) a Londres a
organização de um novo referendo de independência, descontente com a
saída da Grã-Bretanha da UE, um cenário que vai testar a solidez do
Reino Unido.
Um dia antes da primeira-ministra britânica, Theresa May, notificar
oficialmente a saída de Londres da União Europeia, o que tornará a
situação praticamente irreversível, a chefe de Governo verá sobre a mesa
a demanda de um referendo que já chamou de "inaceitável", mas que
poucos acreditam que poderá impedir.
Sem um artigo na Constituição que o proíba, May não tem praticamente
outra opção que tentar adiar o referendo o máximo possível para que não
coincida com os dois anos de negociações com Bruxelas sobre os termos do
divórcio UE-Reino Unido.
O Partido Nacional Escocês (SNP) da primeira-ministra regional, Nicola
Sturgeon, favorável à independência, precisa do apoio dos Verdes para
aprovar o pedido, o que é considerado praticamente certo. A votação deve
acontecer por volta das 16h GMT (13h de Brasília).
Última tentativa
May viajou a Escócia na segunda-feira (27) para uma reunião com
Sturgeon, em uma última tentativa de aproximar as posições, mas nenhuma
das duas mudou de opinião.
"Minha posição é muito simples e não mudou. Agora não é o momento de
falar de um segundo referendo de independência", afirmou May em uma
entrevista à agência britânica Press Association.
Antes, em um discurso, descreveu a união de Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales como "uma força imparável".
Sturgeon, que deseja o referendo no fim de 2018 ou início de 2019,
insistiu após o encontro que "os escoceses podem tomar uma decisão bem
fundamentada sobre seu futuro" neste prazo e que não há motivo para
esperar mais.
Após a aprovação da demanda de referendo pelo Parlamento escocês, o
Parlamento britânico, onde os conservadores de May têm maioria absoluta,
deverá se pronunciar a respeito.
Tanto a Câmara dos Comuns como a dos Lordes precisam autorizar, o que
tecnicamente consistiria em aprovar a transferência a Edimburgo do poder
de organizar o plebiscito.
May poderia aceitar a votação do Parlamento britânico, mas negar-se a
assinar a transferência até depois do Brexit. Além da data, ela e
Sturgeon teriam que negociar a pergunta a ser feita no plebiscito.
No referendo de 2014, a permanência no Reino Unido venceu por 55% a
45%. A votação aconteceu com o compromisso de definir o tema por pelo
menos uma geração.
Mas os defensores da independência da Escócia alegam que em seu
programa eleitoral constava que no caso de "uma mudança material das
circunstâncias" eles solicitariam um novo plebiscito.
A mudança aconteceu com o Brexit. Os escoceses votaram majoritariamente
a favor da permanência na UE, mas seu voto se viu diluído a nível
nacional. Sturgeon acusa May de não ter levado a Escócia em consideração
nos preparativos para as negociações com Bruxelas, ao descartar, por
exemplo, a permanência no mercado único europeu.
Por France Presse